Instituto Dona Ana Rosa na Vila Mariana, em 1899, com capacidade para 200 jovens. Essa quarta sede foi construída na “Chácara Bellah de Souza Queiroz”, situada na rua Vergueiro, nº 2.189, Vila Mariana. A área para a construção foi doada por Nicolau de Souza Queiroz, um dos filhos do fundador.

O atual Instituto Dona Ana Rosa foi criado pelo barão de Souza Queiroz a partir da dotação orçamentária de d. Ana Rosa de Araújo Galvão (1786-1860), que no seu testamento ditado ao cônego Joaquim do Monte Carmelo deixou especificado que parte do que deixara, 135 mil réis, deveria ser empregado numa obra pia.

Os testamenteiros eram, pela ordem, o capitão Manoel José de França, cunhado da falecida, o comendador Joaquim José da Silva, Joaquim Floreano de Toledo, Luiz Antônio de Souza Barros – irmão do barão, e só então aparecia o nome do barão, Francisco Antônio de Souza Queiroz, o qual era o único presente quando da abertura do testamento e, por isso, assumiu a função.

A ideia do Barão era criar uma instituição que seria inicialmente chamada de “Sociedade Protectora da Infância Desvalida”, para o que destinaria, segundo o testamento, três quartas partes do legado da falecida.

Porém, o legado não era suficiente para a importante obra que o Barão planejava e que nem seria fácil do ponto de vista burocrático, pois haveria de ser o primeiro estabelecimento de ensino privado de São Paulo, o que exigia um estatuto diferenciado. Além disso, é provável que o Barão tenha feito um projeto e mandado construir o que viria a ser o futuro Instituto, pois um desenho do Instituto Ana Rosa já aparecia numa planta da cidade de 1881. O desenho mostra um prédio de três andares, quadrado e bastante amplo, ladeado de palmeiras, tendo em cada um dos três andares nove janelas de frente.

A prova de que a missão de criar o Instituto não era fácil é que, falecendo d. Ana Rosa em 1860, apenas em 1874 foi criada a instituição, com recursos de dezenas de amigos e parentes que, a pedido do Barão, fizeram doações para a recém-criada instituição. Entre os que deram recursos para a obra estão todos os seus 11 filhos, o barão de Itapetininga, sua irmã – a baronesa de Limeira, seu irmão – Luiz Antònio de Souza Barros, seu genro – Manuel Batista da Cruz Tamandaré, e também o barão de Antonina, Antônio Januário Pinto Ferraz, Bento Francisco de Paula Souza, José Manuel de Mesquita Júnior, Camilo Gavião Peixoto e Luiz Vicente de Souza Queiroz, criador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba – SP.

PRIMEIRA SEDE — RUA DA CONSTITUIÇÃO

Primeira sede do Instituto Dona Ana Rosa, situada na rua da Constituição, nº 40 (atual Florêncio de Abreu), no quadrilátero formado pelas ruas Senador Queiroz,  rua Alegre (atual Brigadeiro Tobias) e rua Episcopal (atual rua Paula Souza/ Washington Luís). Esse terreno seria futuramente cortado pela avenida Prestes Maia.

A sede mais famosa do Instituto Ana Rosa foi na chamada “Chácara Velha”, na atual praça D. José Gaspar, da qual inclusive há um quadro que foi preservado. O Instituto nasceu, entretanto, em outra chácara de seu fundador, na rua da Constituição nº 40.

Algumas pesquisas indicam a evolução cronológica do atual Instituto Dona Ana Rosa: a ata de fundação, assinada por todos os que contribuíram para a criação da instituição, é 10 de novembro de 1874. O Instituto começa a funcionar como internato, em 8 de abril de 1875, e, apesar de ter sido construído para abrigar crianças consideradas desvalidas, os jornais da época publicaram artigos e cartas sobre os exames anuais feitos pelos internos e elogios de pais orgulhosos cujos filhos cursavam o Ana Rosa.

Exemplo é uma nota da Secção Livre da “Província de São Paulo”, atual “O Estado de S. Paulo”, de 28 de janeiro de 1876, que diz: Senhores, hoje se completa um ano da primeira reunião em que foi instalada a nossa caridosa associação, e, não estando ainda à época em que deve a diretoria dar-vos conta do resultado de seus esforços, na execução do objeto da mesma, entendeu não dever demorar mais esta reunião para prestar-vos as devidas informações. O Instituto D. Ana Rosa foi instalado em abril de 1875 na casa da Rua da Constituição desta cidade, onde funciona, a qual foi prestada pelo proprietário presidente diretor…

A chácara do Barão onde funcionou inicialmente o Instituto e onde os internos cuidavam de uma horta que o abastecia, ficava mais ou menos onde hoje a avenida Prestes Maia cruza com a Senador Queiroz, esta última nomeada em homenagem ao barão de Souza Queiroz.

A rua da Constituição é atualmente a rua Florêncio de Abreu e, ainda em vida do Barão, a chácara foi tomada pela área urbana da cidade, o que o levou a mandar construir em seus terrenos mais de dez sobradinhos que passou a alugar. Eram todos iguais: na parte de baixo havia uma loja ou armazém, e no segundo andar, uma moradia. Esses imóveis constam no formal de partilha da baronesa de Souza Queiroz.

A chácara era efetivamente na rua da Constituição, mas tudo leva a crer que o prédio onde foi instalado o Ana Rosa estava longe do limite do terreno, tanto que num outro mapa de 1881 ele aparece como dando frente para a Rua dos Bonds. Para dificultar ainda mais a localização precisa, a atual rua da Constituição é uma ladeira entre a Florêncio de Abreu e a 25 de Março, bem próxima do Mosteiro de São Bento, exatamente na região da cidade onde o Ana Rosa foi instalado originalmente.

O Barão não estava satisfeito com a localização ou com as instalações, tanto que na Província de São Paulo de 1876 se lê que ele tentava transferir o Instituto para um imóvel pertencente ao Convento do Carmo, o que jamais ocorreu, entretanto: “[…] apesar dos esforços empregados, ainda não foi possível conseguir a realização do ajuste convencionado com a competente autoridade eclesiástica sobre o Convento do Carmo desta cidade, para aí funcionar o Instituto”.

SEGUNDA SEDE  — “CHÁCARA VELHA”

Segunda sede do Instituto Ana Rosa, na “Chácara Velha”, no final do século XIX, onde hoje se localiza a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, na praça Dom José Gaspar, no cruzamento da rua São Luís com rua da Consolação.

Como o prédio da chácara não estivesse servindo de sede adequada ao Instituto, talvez pelo crescente número de alunos, em algum ano do final do século XIX ele passa a funcionar na “Chácara Velha”, cujos portões, preservados, foram instalados há pouco num pórtico da sede atual do Instituto.

A “Chácara Velha” era uma das muitas que existiam na antiga cidade de São Paulo, relativamente longe da cidade, que se concentrava em poucos quarteirões perto do Pátio do Colégio e do largo de São Bento. Era um terreno onde cultivavam hortaliças e frutas, e onde se podia ordenhar uma vaca e eventualmente matar um porco. Os atuais largo do Arouche, rua da Constituição, rua Brigadeiro Luiz Antônio (pai do Barão) e o atual bairro de Higienópolis, eram ocupados por chácaras desse tipo.

Semanalmente um carro de bois saía da chácara e levava os gêneros para a “cidade”, pois na época não havia como conservar os alimentos por muito tempo (ainda não se inventara a geladeira),  e o comércio no Centro Velho era pequeno – não havia empórios, e muito menos supermercados.

TERCEIRA SEDE  — CONVENTO DO CARMO

Terceira sede do Instituto Ana Rosa, que funcionou no Convento do Carmo até 1887. (Pintura de Arnaud Pallière, com vista da Várzea do Carmo.)

O Instituto Ana Rosa funcionou provisoriamente na “Chácara Velha”, até que finalmente, em 25 de março de 1887, saiu a almejada cessão do Convento do Carmo, que seria a sua terceira sede.

Foram feitas algumas reformas no edifício, que estava vazio havia anos. Reconstruiu-se a parte de trás do convento, que estava em ruínas, e o prédio passou a ter condições de abrigar os meninos – já então cerca de cem. Mas as instalações ainda não eram as ideais.

QUARTA SEDE — LARGO ANA ROSA

Quarta sede do Instituto Dona Ana Rosa, em 1899, situada na rua Vergueiro, 2.189, Vila Mariana.

O fato é que em 1897 a sede definitiva do Instituto começa a ser construído no lado ímpar da rua Vergueiro, ainda não alargada, para substituir a sede – também improvisada no Convento do Carmo. O local onde funcionaria o Instituto passou a ser chamado largo do Ana Rosa. Muitos anos mais tarde, com a construção do metrô, ali surgiu a Estação Ana Rosa.

O Instituto passou a funcionar nessas novas instalações em 1899, quando foi inaugurado e o que era sua ala esquerda corresponde hoje à avenida José de Queiroz Aranha.

Nessa sede “definitiva”, o Instituto foi usado como cozinha para as tropas e hospital para os feridos na Revolução de 1924 e, por isso, foi bombardeado pelas tropas que atacavam São Paulo. Fotografias da época mostram a fachada com as marcas das balas de canhão, que, felizmente, fizeram pouco estrago.

No final da década de 1940, porém, a crise econômica – mais uma das muitas que enfrentou o Brasil – tornava difícil a manutenção do Instituto, e o terreno em que se encontrava se valorizara muito. Isso motivou a decisão da diretoria de vender o prédio e construir nova sede, a atual, na Vila Sônia. O prédio do largo Ana Rosa foi demolido em 1950, e no seu lugar o Banco Hipotecário Lar Brasileiro construiu uma série de pequenos prédios de três e quatro andares, que chegavam quase até a atual rua Topázio, na Aclimação.

QUINTA SEDE  — VILA SÔNIA

Em 1949 o Instituto Ana Rosa passa a funcionar na sede atual, em área de 30 mil metros quadrados.

PRIMEIRO ANO DO INSTITUTO

Publicado em “A Província de São Paulo”, 28/01/1876
SECÇÃO LIVRE
Instituto D. Anna Rosa

Senhores – Hoje completa-se um ano da primeira reunião em que foi instalada a nossa caridosa associação e, não estando ainda a época em que deve a diretoria dar-vos conta do resultado de seus esforços, na execução do objeto da mesma, entendeu não dever demorar mais esta reunião para prestar-vos as devidas informações.

O Instituto d. Ana Rosa foi instalado em abril de 1875, na casa da rua da Constituição desta cidade, onde funciona, a qual foi prestada pelo proprietário presidente diretor. Apesar dos esforços empregados, ainda não foi possível conseguir a realização do ajuste convencionado com a competente autoridade eclesiástica sobre o convento do Carmo desta cidade, para aí funcionar o instituto.
A despeito desta desanimadora delonga, a diretoria nutre ainda a esperança de conseguir obter o dito convento, porquanto não estando o mesmo ocupado no desempenho de sua instituição, parece que o arrendamento para nele funcionar um Instituto pio não pode julgar-se desarmonisar com o fim de seu estabelecimento.

Até 31 de dezembro de 1875 contava o Instituto 62 alunos, inclusive um aluno que deve pagar 10$ mensais, e dois que pagarão 8$ cada um. Esse número hoje é de 67, e não poderá elevar-se a mais de 70, não só por falta de acomodações no edifício, como porque os recursos atuais da associação não comportam maior despesa. Contudo, confiando o diretório nos sentimentos filantrópicos e caridosos da nossa população, e mesmo nos bons desejos do poder público, espera que esses recursos serão aumentados para dar-se ao Instituto o desenvolvimento que as necessidades públicas reclamam.

Dos alunos recebidos saíram dois, pagando a multa de 120$ cada um, e quatro que retiraram-se sem acordo da direção.

As matérias que por enquanto constituem a disciplina do Instituto são: leitura, escrita, gramática da língua nacional, as quatro operações de aritmética, sistema métrico de pesos e medidas e noções muito gerais de matérias úteis aos ofícios e artes.

Acham-se também já estabelecidas a aula de música, a oficina de alfaiataria com algum proveito para o Instituto, seis alunos aprendem o ofício de carpinteiro e outros seis de pedreiro, e também seis como pintores de casa. Esta aprendizagem é conciliada com os outros estudos.

O serviço doméstico é feito pelos alunos, menos o de lavagem de roupa e da cozinha, onde só existem dois como ajudantes, que servem alternadamente, o que também acontece nos outros serviços. Os alunos mostram-se satisfeitos e geralmente comportam-se bem.

No dia 23 de dezembro do ano passado, realizou-se o exame dos alunos nas matérias ensinadas, com assistência do inspetor de instrução pública e assistentes, e tanto o inspetor, como os examinadores e assistentes manifestaram satisfação pelo adiantamento dos mesmos.

Convém declarar que o Instituto, embora ainda em concurso com 8 meses apenas de existência, já apresenta um aspecto lisongeiro, marchando tudo com a precisa regularidade, e creando-se costumes que fazem conceber fundadas esperanças de sua prosperidade futura, o que será de imensa vantagem pública pelo melhoramento da sorte dos desvalidos, embora o seu número não seja o que se deve desejar, e as necessidades públicas reclamam.

Cumpre expor que o resultado satisfatório do Instituto é devido à idoneidade e dedicação do sr. Faustino Delduque da Costa e sua digna consorte, a sra. d. Cândida, que realizaram a expectação prevista no ajuste com os mesmos feito para a gerência interna do mesmo, merecendo especial menção a sra. d. Cândida, que tem prestado eficaz coadjuvação, por sua economia, espírito de ordem e bondade com que trata os alunos, principalmente nos poucos casos de enfermidades que aí se tem dado.

Também convém declarar que têm prestado auxílio valioso ao Instituto dois filhos do sr. Delduque, os srs. Alfredo e Frederico, que com dedicação voluntária e prestimosa empregam-se no serviço do Instituto. O diretorio julgou conveniente dar-lhes um sinal de gratidão, presenteando-os com 400$ no dia de Ano Bom.

A receita do Instituto conforme o quadro nº 15 é composta de diversas verbas:

Joias e doações dos associados: 76.645$000
Entrada por ordem do governador provincial, proveniente da desistência que fizeram o barão de Atibaia e outro, pela remuneração que lhes foi dada por serviços públicos que prestaram: 700$000
(ilegível) da testamentária d. Anna Rosa de Araujo consignado pelo testamenteiro diretor-presidente: 135.529$590
Estas verbas perfazem a soma de: 212.874$590

Além disso convém acrescentar doações condicionais que fizeram alguns associados e são os seguintes: o dr. Francisco A. de Souza Queiroz doou 3.000$, elevando assim a sua jóia a 5.000$, o dr. Luiz Antonio de Souza Queiroz 3.800$, elevando a sua jóia a 5.000$, e o dr. Manoel Baptista da Cruz Tamandaré 748$146, elevando sua jóia a 2.078$337. Mas estas doações foram feitas com a condição de, verificada a hipótese do art. 14 dos estatutos, poderem os doadores dar tais quantias a estabelecimentos de piedade que lhes aprouver, ou mesmo retirá-los.

Assim, em vista do quadro nº 15, a receita ordinária, prêmios verificados e receita extraordinária, perfazem a soma de reis 228.275$038 à qual se deve acrescentar os prêmios do empréstimo à companhia Ytúana, vencidos de 10 de outubro a 31 de dezembro, e mais do empréstimo a particular de 1 a 3 de dezembro, mas são eliminados para serem computados no ano corrente, para simplificar a conta.

Desta quantia foram emprestadas à companhia Ytúana a parcela de 100$000 a prêmio de 8 por cento ao ano pago semestralmente, e o restante 110$000 foi emprestado a particular sobre a responsabilidade do diretor presidente, e com o mesmo prêmio.

A despesa elevou-se até 31 de dezembro de 1875 a 18.275$038, com as seguintes verbas:

Despesas de organização utensis de casa e escola, instrumentos e oficinas de carpinteiro e pedreiro, alfaiataria, capela, despesas extraordinárias com arranjos no edifício e música, como se vê dos quadros nº 1, 3, 5, 6, 10, 11 e 12 8.574$529
Com o pessoal administrativo, conforme o quadro nº 7 1.866$656
Com a enfermaria e médico 219$090
Com despesas ordinárias conforme o quadro nº 14 3.905$705
Com a rouparia conforme o quadro nº 4 2.056$858
Com móveis conforme o quadro nº 2 1.642$200
Despesas 18.265$038

A primeira verba de despesa com o quadro nº 2 que compreende gastos do primeiro estabelecimento, pode ser diminuída em algumas de suas partes. A da enfermaria depende de circunstâncias, e por isso escapa a qualquer precisão. As outras devem ter acréscimo no corrente ano, visto que o exposto só se refere a 8 meses, e o número de alunos tem sido elevado gradualmente a 62, máximo existente em 31 de dezembro de 1875, o qual acha-se hoje elevado a 67.

À vista do exposto, consideradas a receita e despesa, resulta um saldo de 210$000 que constitui o capital da associação, cujo rendimento será empregado nas despesas do corrente ano.
As experiências colhidas pelo diretório durante o tempo em que tem funcionado o instituto, autoriza-o a acreditar que a despesa do instituto pode ser orçada tomando por base a média mensal de 18$ em relação a cada aluno, e se houver diferença não poderá ser considerável.

Não pode o diretório deixar de congratular-se com esta associação, pelo estado prometedor do instituto, e confia que com o progresso do tempo e luzes da experiência, necessariamente hão de realizar-se melhoramentos desenvolvendo e ampliando o instituto como as condições atuais do país reclamam.

Confia o diretório que no seu proceder, no desempenho dos seus deveres, será apreciado com justiça e equidade.

BARÃO DE SOUZA QUEIROZ
B. GAVIÃO
J. S. CARRÃO